Prêmio Bigorna: Premiados da Terceira Edição
Por Marcio Baraldi
08/11/2010
Por Marcio Baraldi
08/11/2010
UFA! Agora que o terrível tsunami eleitoral passou, levando criaturas pré-históricas para longe, podemos finalmente voltar ao ritmo normal de vida e dar sequência a terceira edição do charmosíssimo Prêmio Bigorna, o prêmio mais "sexy" dos Quadrinhos Brasileiros!
Reparem nos músculos torneados e brilhantes do Homem de Bronze (não confundir com Doc Savage, por favor) e seu martelo sempre rígido e pronto para a ação (não confundir com Thor, por favor), sempre cheio de alegria e testosterona (não confundir com o Marcio Baraldi, por favor)! Enfim, um prêmio de presença mesmo!
Enquanto por aí, contrariando a Lei de Lavoisier, nada muda, nada se transforma, tudo se repete infinita e monotonamente, de forma que já sabemos de antemão o que acontecerá nos próximos vinte anos, por aqui continuamos fiéis a nossa proposta de democratizar o acesso aos Prêmios de Quadrinhos, reconhecendo o talento e ótimos serviços de profissionais que vão além das estreitas mentes e pequenos círculos de amizades. Muito além da mesmice, da burrice e da "cumpadíce". Continuamos respeitando a vasta categoria dos profissionais do Quadrinho Nacional, não subestimando a inteligência e senso-crítico de ninguém. Continuamos vasculhando o Brasil de Norte a Sul para refletir e contemplar toda a rica diversidade cultural e quadrinhística deste país tropical, abençoado por Deus e bonito por Natureza.
Sem medo de ser feliz e sem mais delongas vamos aos premiados destaques do ano de 2010 :
O fenomenal capista da MAD!!!!! O caipirão Elias Silveira vivia escondido no interiorzão de São Paulo e era completamente desconhecido do público leitor de Quadrinhos. Ganhava a vida exclusivamente como ilustrador publicitário e comercial. Até o Raphael Fernandes, editor da MAD, o descobrir na internet e cair de quatro com seu portfólio matador! Elias é um desses raros e abençoados casos de virtuosismo nato: o cara domina todas os estilos de desenho e técnicas de pintura com um pé nas costas. Faz verdadeiras obras-primas com uma mão enquanto com a outra escova os dentes ou prepara o café. Uma espécie de Benício de sua geração, Elias está para a atual fase da MAD como o espetacular Carlos Chagas (outro brilhante discípulo de Benício) estava para a MAD dos anos 80. Além das fenomenais capas, Elias ainda ataca como quadrinhista e ilustrador de páginas-pôsteres dentro da revista. Enfim, um gênio modesto e humilde, de forte sotaque interiorano, que tem uma brilhante carreira pela frente e merece zilhões de prêmios. O Bigorna cumpre sua parte concedendo-lhe o primeiro de sua carreira. Sempre em frente, grande Elias!
Essa eu fico até emocionado de premiar!!! Primeiro porque a mulherada está finalmente botando as meigas e perfumadas manguinhas de fora e entrando definitivamente nesse mercado que sempre foi dominado pelos cuecas. Estão entrando com seu jeitinho e charme irresistíveis, trazendo além do inegável talento pra escrever, desenhar e pintar, uma dose de feminilidade capaz de humanizar um gênero atualmente tão repleto de violência e crueldade desnecessárias. Enfim, trazendo aquela mágica que só uma mulher é capaz de fazer! E a Marcela, escritora talentosa, é uma das melhores representantes dessa safra de quadrinhistas, trabalhando sem parar nos últimos anos e produzindo obras bacanas como "Sete segundos de Eternidade", "Uma noite em Staronova" e "Fractal", lançada este ano em parceria com o desenhista Eduardo Ferigato. Como se não bastasse o talento e competência, Marcela ainda é politicamente lúcida e esclarecida e LINDA pra carvalho!!!! Confiram tudo isso no seu blog. Depois de eleger uma mulher presidente, faço questão de eleger outra como roteirista do ano!
O Brasil está repleto de ótimos chargistas, dá gosto de ver quantos profissionais criativos, inteligentes e talentosos estão espalhados por todos os estados do país. Mesmo assim, curiosamente, tem "otoridades" por aí que acham que só existe UM chargista no Brasil!!! Engraçado, né?!?... Pois um desses grandes chargistas brasileiros atende pelo nome de Amorim. Carioca, com quase trinta anos de carreira, produz zilhões de charges inteligentes e criativas todo santo dia, as quais vende para outros zilhões de jornais pelo Brasil afora. Seu traço exótico e retrô, reconhecível a quilômetros de distância, é uma saudável trombada entre JCarlos e Belmonte, dois clássicos da charge e da ilustração brasileira! Além de tudo, ainda faz cartuns, tiras, quadrinhos, caricaturas, ilustrações e textos. Tudo com o mesmo alto padrão de qualidade! Como se não bastasse, ainda administra, ao lado do Mariano (outro grande chargista brasileiro), o "Charge On Line", o primeiro site a reunir charges de vários autores do Brasil, funcionando como a maior vitrine virtual de chargistas do país. Enfim, impossível não premiar um talento desse!
Hoje em dia parece moda ser chato, reclamão e sem graça. O cartum brasileiro tá cheio de piadas cabeças, rabugentas, apáticas, auto-depreciativas, enfim toda aquela chatice que o depressivo Robert Crumb e similares disseminaram pelo mundo e encontraram eco em zilhões de cartunistas brasileiros. Mas graças a Deus que ainda existem cartunistas que fazem humor para rir e não para chorar. Cartunistas que desenham para o povão e não para a crítica. É o caso do veterano carioca Arionauro, engraçado até no nome! Arionauro segue a escola do traço simples, expressivo e divertido, a serviço do humor direto, criativo e "na lata"!Com 25 anos de carreira, o caboclo já ganhou muitos Salões de Humor pelo Brasil e mundo afora e pode ser visto em vários jornais de seu Estado. Seus cartuns fazem cócegas no cérebro do público e é praticamente impossível não simpatizar de imediato com seu trabalho. Por tudo isso aceite este prêmio Bigorna, com todas as honras e glórias que seu humor debochado merece, Arionauro! E continue espantando o Festival de Rabugices que Assola o País!
Conheço a trajetória do carioca Pedro de Luna há muuuuitos anos! Desde que ele era um molecão fanzineiro, apaixonado por rock e quadrinhos, misturando ambos na sua série de tiras "Bandas Desenhadas", realizando oficinas de Quadrinhos e exposições pelo Rio de Janeiro, publicando suas tiras pra lá e pra cá, e abrindo espaços na mídia para seu trabalho. Numa dessas, em 2005, cavou espaço no Jornal do Brasil, criando o JBlog e escrevendo sobre Quadrinhos também na versão impressa do jornal. Com o fim do impresso, concentrou seus esforços no blog, tornando-o o mais importante do Rio de Janeiro e um dos mais lidos do Brasil. Lá, Pedro despeja, quase todos os dias, um punhado de informações, resenhas, entrevistas com personalidades brasileiras do ramo e matérias bacanas,inteligentes, críticas e bem feitas. Enquanto alguns forçam a barra para fazer acreditar que existe apenas um bom site/blog do gênero no Brasil, nós do Bigorna temos humildade para reconhecer a grande quantidade de profissionais talentosos trabalhando no ramo. Entre eles, o ótimo Pedro de Luna. Never mind the bollocks, Pedrão!
As vezes eu tenho a impressão que jogaram uma bomba química no Brasil e mataram todos os jornalistas especializados em HQ, sobrando um ou dois no máximo! É uma impressão forte que eu tenho uma vez por ano, sabem? Mas logo essa impressão passa e eu volto a enxergar a realidade e aí eu percebo quantos jornalistas excelentes o Brasil tem de cabo a rabo. Quanta gente competente que, além de ótimos profissionais, nunca fizeram panela com ninguém, o que só faz aumentar sua dignidade e credibilidade. Jornalistas que além de crítica, possuem a famosa e rara AUTO-crítica, também conhecida como "Semancol", essa necessária virtude que parece estar desaparecendo do DNA humano. Enfim, jornalistas como Jota Silvestre, do blog Papo de Quadrinhos, o qual temos a honra de tê-lo colaborando no Bigorna. Dono de um texto sempre sensato, racional e equilibrado, Jota além de nos dar a honra de sua colaboração e de administrar seu blog, um dos mais queridos do Brasil, ainda dá expediente na revista Mundo dos Super-Heróis, dissecando a trajetória de muitos super-heróis das HQs em matérias longas, profundas e bem pesquisadas. É uma honra para o Bigorna premiar esse grande nome do jornalismo pop-cultural do Brasil! O céu é o limite para Jota Silvestre!
A folha de bons serviços prestados ao Quadrinho Nacional pelo paraibano Henrique Magalhães é imensa e dá a volta no quarteirão! Além de ser um cartunista fundamental para o Brasil e um dos primeiros a construir uma carreira acadêmica, Henrique fundou a Marca de Fantasia, a única editora com visão progressista suficiente para investir nos chamados "Quadrinhos poéticos-filosóficos" de autores vanguardistas como Flávio Calazans, Edgar Franco e Gazy Andraus. Além disso, em seu cast há a maior variedade de Quadrinhos que você puder imaginar, de autores respeitáveis como Edgar Guimarães, Shimamoto, Luis Saidemberg, Nilson, Cedraz, e muitos outros, além dos estrangeiros Sergio Más (argentino) e Claire Bretécher (francesa). Também investiu em quadrinhos GLS, como as personagens lésbicas Katita (de Anita Costa) e Maria (do próprio Henrique), e em zilhões de obras teóricas e acadêmicas que vieram suprir a carência de títulos do gênero no mercado. São mais de 130 títulos lançados em exata década e meia! No ano em que a editora completa 15 anos de vida, nada mais justo e correto do que dar-lhe um merecido prêmio como presente de debutante. E, claro, desejar-lhe mais 15 anos de vida. E depois mais 15, e mais 15, e mais...
Tem gente que tem preguiça de fazer o dever de casa e finge que é só em São Paulo que tem Quadrinhistas! Um jeito assim meio "tucano" de pensar, sabe? Mas dêem só uma olhada nessa revista sensacional que é a Maturi #2, do ensolarado Rio Grande do Norte!Que belezura esse gibi, desde a capa até o último quadrinho do miolo! A revista traz HQs primorosas de Gilvan Lira, Emanoel Amaral, Marcio Coelho, Luiz Elson, Ivan Cabral, José Veríssimo, Robson Nascimento e Wolclenes, a fina flor do Quadrinho potiguar. Juntos eles formam o Grupehq - Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos, e seu rebento mais precioso é este gibi caprichadíssimo, recheado de HQs com os mais diversos traços e estilos, todos extremamente profissionais e atraentes, proporcionando um resultado final harmonioso. São trabalhos tão legais que você olha e pensa: "Pôxa, esses caras deviam aparecer mais, ser conhecidos no Brasil inteiro!". Mas, se depender do Bigorna, terão todo o reconhecimento do mundo. Este prêmio é uma prova disso! Todo sucesso para o vasto e criativo Quadrinho Nordestino Brasileiro! E xô, Xenofobia!
A Devir começou humildemente lá no final dos anos 80, como uma importadora de gibis e de RPGs, sendo, sem dúvida, a grande responsável pela popularização destes jogos no Brasil. Com o sucesso dos RPGs, passou a publicar tais livros no Brasil se tornando também editora. No embalo do crescimento aproveitou pra abrir uma lojona poderosa em São Paulo, que a molecada lota todo dia pra comprar Quadrinhos, jogar RPG e encontrar os amigos. Passou então a investir no Quadrinho Nacional, publicando álbuns e livros caprichados de autores como Lourenço Mutarelli, Shimamoto, Angeli, Sergio Macedo, Marcatti, Laudo, Fernando Gonsales, e muito mais. Além de autores clássicos estrangeiros como Will Eisner, Alan Moore e Frank Miller. Também investiu em autores brasucas jovens como Jozz e José Aguiar. A Devir vem investindo no Quadrinho Brasileiro em ritmo crescente e intenso, lançando vários títulos novos todo ano, e com certeza merece não apenas um Prêmio Bigorna, como muitos outros pelo seu exemplo de empreendedorismo e confiança no Brasil, em sua cultura e em seu Quadrinho. Deus abençoe os sócios Mauro e Douglas e conceda longa vida à Devir!
O cartunista gaúcho Carlos Iotti está para os quadrinhos como a banda pop Nenhum de Nós ("Camila, Camila","Astronauta de Mármore") está para a música. Ambos podem até não fazer tanto sucesso no resto do Brasil, mas são um verdadeiro fenômeno de popularidade em seu estado natal! Iotti é figura-chave no humor sulista atual, seja através de suas tiras que retratam de forma hilária e fiel a cultura gaúcha, seja em seus shows de comédia stand-up pelos bares e teatros do Rio Grande do Sul. Seu personagem Radicci, um bagual tradicionalíssimo, existe desde 1983 e é tão popular no RS que já é considerado um membro de qualquer família por lá. Seu Gibizon, coletânea anual de suas tiras publicadas em jornais pelo Sul, já está no número 27, é uma publicação independente e divide espaço na loja virtual do cartunista com chaveiros, roupas, bonecos, adesivos, CDs (com as piadas gravadas), e toda sorte de merchandisings que só confirmam como o cartunista é bem-estruturado e bom empreendedor. Por sua importância, Iotti merece bem mais prêmios do que já ganhou, e se não os recebeu até agora, de certo foi por estar "longe demais das capitais". Mas com o Bigorna não tem essa frescura! Tome seu prêmio e parabéns, Iotti! Trilegal, tchê!
De uns tempos pra cá, muitos brasileiros começaram a escrever livros sobre Quadrinhos. Isso é ótimo, já devemos ser um dos países com maior produção do gênero! Porém, quem continua na frente dessa maratona é o baiano arretado Gonçalo Júnior! O cara se diferencia da maioria por escrever catataus gigantescos que consomem meses, ou até anos, de árdua pesquisa. Se diferencia por escolher temas até então inéditos! Enfim, como diz aquele velho bordão, por "ir até onde nenhum homem jamais esteve"! E mais uma vez ele repete o feito neste livro "Maria Erótica", em que destrincha toda a trajetória das históricas editoras "EDREL" e "Minami-Cunha", e seus quadrinhos eróticos, durante a ditadura militar. Uma pesquisa minuciosa e exaustiva que culminou nas 500 (!!!) páginas deste livro! "Maria Erótica" é uma espécie de continuação de "A Guerra dos Gibis", outro livro seminal de Gonçalo, e trata-se de mais um capítulo da longa História da HQB, que Gonçalo, passo a passo, ou livro a livro, está escrevendo. Como nenhum outro conseguiria fazer em seu lugar! Que coragem, heim, Gonçalo?!?...Que este prêmio compense, ao menos minimamente, tudo que você tem feito pela memória do Quadrinho Brasileiro!
Esse carioca, radicado em Brasília, de nome curioso, é simplesmente um dos melhores quadrinhistas que apareceu no Brasil nos últimos anos! Seu estilo macio e harmonioso lembra um amálgama de Russ Manning (e por tabela Steve Rude), Archie Comics e Irmãos Hernandez, resultando num dos traços mais carismáticos do momento. Maleável, ele permite que Nestablo encare qualquer empreitada, desde a Luluzinha Teen, que está ilustrando, até obras autorais ousadas como este ZOO, lançado pela HQM Editora. Em ZOO, Nestablo também assume o roteiro, criando um mix de Planeta dos Macacos com Revolução dos Bichos. Um mundo onde os animais antropomorfizados dominam, explorando os humanos da mesma forma que fazemos hoje com os bichos. Uma aventura inteligente, que além de tudo, ainda traz uma oportuníssima crítica social e ecológica! Traço bonito, texto inteligente, narrativa moderna, edição caprichada: que mais um grande Quadrinho precisa?!? Mais nada! Só faltava vergonha na cara da Dona Crítica para premiar o Nestablo! Toma que o filho é teu, Nestablo! E continue criticando a burrice humana, que pelo jeito, ela ainda está longe de acabar!
O carioca Otacílio D'Assunção Barros, mais conhecido como OTA, é um dos nomes mais importantes do Quadrinho Brasileiro de todos os tempos! O cara já fez tanta coisa nesse mercado, que dez linhas de texto não dá nem pra saída pra contar tudo que já fez!Começou aborrecente como assistente de redação na gloriosa EBAL, foi pra Vecchi e, com apenas 22 anos, trouxe a MAD pro Brasil, a qual editou por por 30 longos anos. Na MAD deu espaço pra um porrilhão de artistas brasileiros. Paralelo a isso, lançou no fim dos anos 70, a Spektro, que foi um fenômeno editorial e deu espaço pra mais um porrilhão de artistas nacionais. Lançou a Eureka, única revista a reunir toda a série Vizunga, obra-prima de Flavio Colin. Escreveu o primeiro livro analisando a obra do polêmico Carlos Zéfiro, quando sua identidade ainda era um dos mistérios mais bem guardados do Brasil. Escreveu zilhões de artigos sobre HQ brasileira e estrangeira pra incontáveis veículos. Além de tudo isso ainda construiu uma prolífica carreira como cartunista, sendo sem dúvida, um dos mais hilários e escrachados do ramo. Enfim, um gênio que esteve a frente de seu tempo praticamente a vida toda. Premiá-lo com um Bigorna não é apenas um gesto coerente, mas uma OBRIGAÇÃO MORAL! Benção, Ota Xarope!
Bigorna prossegue sua tradição de premiar três Mestres da HQB, cujas vidas foram integralmente devotadas aos Quadrinhos. Osvaldo Talo, Julio Shimamoto e Getúlio Delphim são artistas que dispensam longas apresentações. Todos pertencem a uma geração que fez o caminho das pedras e construíram carreiras sólidas e prolíficas numa época em que ainda não haviam as facilidades tecnológicas de hoje. Pegaram o "boom" dos gibis de super-heróis e de Terror nacionais dos anos 60 e 70 e ajudaram a produzir o vasto acervo de títulos que o Brasil consagrou naquela época. Títulos como Capitão 7, Fantastik, Vigilante Rodoviário, Aba Larga, O Gaúcho, Targo e muuuuito mais!
Dois talentosos quadrinhistas que saíram precocemente deste insensato mundo material!
Primeiro, o carioca radicado no Maranhão Joacy Jamys, músico punk, designer, escritor e quadrinhista versátil. Um artista multifacetado, homem de letras, imagens e sons. Extremamente produtivo, era o quadrinhista mais consagrado em seu Estado. Abusou da saúde, judiou da carne, viveu 300 anos em 30 e transbordou pra fora de si em dezembro de 2006. Recebeu as devidas honras aqui no Bigorna e na imprensa alternativa brasileira. E agora recebe este prêmio póstumo para consagrar de vez seu nome na galeria dos quadrinhistas que fazem falta ao Brasil! RIP, broder!
Para encerrar, estes são os premiados de 2010. Lembrando que este ano, infelizmente, não haverá Festão do Baraldão, nem cerimonia de entrega. Pois foi um ano atípico, de uma eleição extremamente exaustiva, que tomou muito tempo e atenção deste que vós escreve, impedindo-me de correr atrás dos também exaustivos preparativos que uma festa exige. Até mesmo meu novo livro, dos passarinhos Vapt e Vupt, atrasou, saindo da gráfica apenas este mês. Nem lançamento farei. Mandarei-o direto para as livrarias e para a imprensa. Mas não há de ser nada! Os prêmios serão todos enviados para a casa de cada ganhador, sem incômodo algum para estes.
Lembrando também que a comissão que escolhe os ganhadores é formada pela cúpula do Bigorna, a saber: Eloyr Pacheco, Humberto Yashima, Matheus Moura e o gatíssimo Marcio Baraldi.
O Bigorna parabeniza a todos os ganhadores e aproveita para desejar que nestes próximos anos a categoria dos Quadrinhistas, bem como suas entidades representativas AQC e ACB se fortaleçam e se mobilizem, promovendo o debate permanente sobre os problemas e soluções do Quadrinho Nacional, pois entendemos que o cenário político será favorável para possíveis e merecidos avanços.
De sua parte, Bigorna se coloca a disposição para ser um canal fixo para promover tais debates, como aliás, já vem fazendo nesses seis anos, através de suas entrevistas, sempre politizadas e politizadoras, com autores brasileiros. Assim sendo, caros camaradas, a premiação deste ano termina por aqui... mas o debate continua.
Reparem nos músculos torneados e brilhantes do Homem de Bronze (não confundir com Doc Savage, por favor) e seu martelo sempre rígido e pronto para a ação (não confundir com Thor, por favor), sempre cheio de alegria e testosterona (não confundir com o Marcio Baraldi, por favor)! Enfim, um prêmio de presença mesmo!
Enquanto por aí, contrariando a Lei de Lavoisier, nada muda, nada se transforma, tudo se repete infinita e monotonamente, de forma que já sabemos de antemão o que acontecerá nos próximos vinte anos, por aqui continuamos fiéis a nossa proposta de democratizar o acesso aos Prêmios de Quadrinhos, reconhecendo o talento e ótimos serviços de profissionais que vão além das estreitas mentes e pequenos círculos de amizades. Muito além da mesmice, da burrice e da "cumpadíce". Continuamos respeitando a vasta categoria dos profissionais do Quadrinho Nacional, não subestimando a inteligência e senso-crítico de ninguém. Continuamos vasculhando o Brasil de Norte a Sul para refletir e contemplar toda a rica diversidade cultural e quadrinhística deste país tropical, abençoado por Deus e bonito por Natureza.
Sem medo de ser feliz e sem mais delongas vamos aos premiados destaques do ano de 2010 :
1 - Desenhista do Ano: Elias Silveira
O fenomenal capista da MAD!!!!! O caipirão Elias Silveira vivia escondido no interiorzão de São Paulo e era completamente desconhecido do público leitor de Quadrinhos. Ganhava a vida exclusivamente como ilustrador publicitário e comercial. Até o Raphael Fernandes, editor da MAD, o descobrir na internet e cair de quatro com seu portfólio matador! Elias é um desses raros e abençoados casos de virtuosismo nato: o cara domina todas os estilos de desenho e técnicas de pintura com um pé nas costas. Faz verdadeiras obras-primas com uma mão enquanto com a outra escova os dentes ou prepara o café. Uma espécie de Benício de sua geração, Elias está para a atual fase da MAD como o espetacular Carlos Chagas (outro brilhante discípulo de Benício) estava para a MAD dos anos 80. Além das fenomenais capas, Elias ainda ataca como quadrinhista e ilustrador de páginas-pôsteres dentro da revista. Enfim, um gênio modesto e humilde, de forte sotaque interiorano, que tem uma brilhante carreira pela frente e merece zilhões de prêmios. O Bigorna cumpre sua parte concedendo-lhe o primeiro de sua carreira. Sempre em frente, grande Elias!
2 - Roteirista do Ano: Marcela Godoy
Essa eu fico até emocionado de premiar!!! Primeiro porque a mulherada está finalmente botando as meigas e perfumadas manguinhas de fora e entrando definitivamente nesse mercado que sempre foi dominado pelos cuecas. Estão entrando com seu jeitinho e charme irresistíveis, trazendo além do inegável talento pra escrever, desenhar e pintar, uma dose de feminilidade capaz de humanizar um gênero atualmente tão repleto de violência e crueldade desnecessárias. Enfim, trazendo aquela mágica que só uma mulher é capaz de fazer! E a Marcela, escritora talentosa, é uma das melhores representantes dessa safra de quadrinhistas, trabalhando sem parar nos últimos anos e produzindo obras bacanas como "Sete segundos de Eternidade", "Uma noite em Staronova" e "Fractal", lançada este ano em parceria com o desenhista Eduardo Ferigato. Como se não bastasse o talento e competência, Marcela ainda é politicamente lúcida e esclarecida e LINDA pra carvalho!!!! Confiram tudo isso no seu blog. Depois de eleger uma mulher presidente, faço questão de eleger outra como roteirista do ano!
3 - Chargista do Ano: Amorim
O Brasil está repleto de ótimos chargistas, dá gosto de ver quantos profissionais criativos, inteligentes e talentosos estão espalhados por todos os estados do país. Mesmo assim, curiosamente, tem "otoridades" por aí que acham que só existe UM chargista no Brasil!!! Engraçado, né?!?... Pois um desses grandes chargistas brasileiros atende pelo nome de Amorim. Carioca, com quase trinta anos de carreira, produz zilhões de charges inteligentes e criativas todo santo dia, as quais vende para outros zilhões de jornais pelo Brasil afora. Seu traço exótico e retrô, reconhecível a quilômetros de distância, é uma saudável trombada entre JCarlos e Belmonte, dois clássicos da charge e da ilustração brasileira! Além de tudo, ainda faz cartuns, tiras, quadrinhos, caricaturas, ilustrações e textos. Tudo com o mesmo alto padrão de qualidade! Como se não bastasse, ainda administra, ao lado do Mariano (outro grande chargista brasileiro), o "Charge On Line", o primeiro site a reunir charges de vários autores do Brasil, funcionando como a maior vitrine virtual de chargistas do país. Enfim, impossível não premiar um talento desse!
4 - Cartunista do Ano: Arionauro
Hoje em dia parece moda ser chato, reclamão e sem graça. O cartum brasileiro tá cheio de piadas cabeças, rabugentas, apáticas, auto-depreciativas, enfim toda aquela chatice que o depressivo Robert Crumb e similares disseminaram pelo mundo e encontraram eco em zilhões de cartunistas brasileiros. Mas graças a Deus que ainda existem cartunistas que fazem humor para rir e não para chorar. Cartunistas que desenham para o povão e não para a crítica. É o caso do veterano carioca Arionauro, engraçado até no nome! Arionauro segue a escola do traço simples, expressivo e divertido, a serviço do humor direto, criativo e "na lata"!Com 25 anos de carreira, o caboclo já ganhou muitos Salões de Humor pelo Brasil e mundo afora e pode ser visto em vários jornais de seu Estado. Seus cartuns fazem cócegas no cérebro do público e é praticamente impossível não simpatizar de imediato com seu trabalho. Por tudo isso aceite este prêmio Bigorna, com todas as honras e glórias que seu humor debochado merece, Arionauro! E continue espantando o Festival de Rabugices que Assola o País!
5 - Blog/Site Sobre Quadrinhos do Ano: JBlog, de Pedro de Luna
Conheço a trajetória do carioca Pedro de Luna há muuuuitos anos! Desde que ele era um molecão fanzineiro, apaixonado por rock e quadrinhos, misturando ambos na sua série de tiras "Bandas Desenhadas", realizando oficinas de Quadrinhos e exposições pelo Rio de Janeiro, publicando suas tiras pra lá e pra cá, e abrindo espaços na mídia para seu trabalho. Numa dessas, em 2005, cavou espaço no Jornal do Brasil, criando o JBlog e escrevendo sobre Quadrinhos também na versão impressa do jornal. Com o fim do impresso, concentrou seus esforços no blog, tornando-o o mais importante do Rio de Janeiro e um dos mais lidos do Brasil. Lá, Pedro despeja, quase todos os dias, um punhado de informações, resenhas, entrevistas com personalidades brasileiras do ramo e matérias bacanas,inteligentes, críticas e bem feitas. Enquanto alguns forçam a barra para fazer acreditar que existe apenas um bom site/blog do gênero no Brasil, nós do Bigorna temos humildade para reconhecer a grande quantidade de profissionais talentosos trabalhando no ramo. Entre eles, o ótimo Pedro de Luna. Never mind the bollocks, Pedrão!
6 - Jornalista Especializado: Jota Silvestre
As vezes eu tenho a impressão que jogaram uma bomba química no Brasil e mataram todos os jornalistas especializados em HQ, sobrando um ou dois no máximo! É uma impressão forte que eu tenho uma vez por ano, sabem? Mas logo essa impressão passa e eu volto a enxergar a realidade e aí eu percebo quantos jornalistas excelentes o Brasil tem de cabo a rabo. Quanta gente competente que, além de ótimos profissionais, nunca fizeram panela com ninguém, o que só faz aumentar sua dignidade e credibilidade. Jornalistas que além de crítica, possuem a famosa e rara AUTO-crítica, também conhecida como "Semancol", essa necessária virtude que parece estar desaparecendo do DNA humano. Enfim, jornalistas como Jota Silvestre, do blog Papo de Quadrinhos, o qual temos a honra de tê-lo colaborando no Bigorna. Dono de um texto sempre sensato, racional e equilibrado, Jota além de nos dar a honra de sua colaboração e de administrar seu blog, um dos mais queridos do Brasil, ainda dá expediente na revista Mundo dos Super-Heróis, dissecando a trajetória de muitos super-heróis das HQs em matérias longas, profundas e bem pesquisadas. É uma honra para o Bigorna premiar esse grande nome do jornalismo pop-cultural do Brasil! O céu é o limite para Jota Silvestre!
7 - Editora Independente: Marca de Fantasia
A folha de bons serviços prestados ao Quadrinho Nacional pelo paraibano Henrique Magalhães é imensa e dá a volta no quarteirão! Além de ser um cartunista fundamental para o Brasil e um dos primeiros a construir uma carreira acadêmica, Henrique fundou a Marca de Fantasia, a única editora com visão progressista suficiente para investir nos chamados "Quadrinhos poéticos-filosóficos" de autores vanguardistas como Flávio Calazans, Edgar Franco e Gazy Andraus. Além disso, em seu cast há a maior variedade de Quadrinhos que você puder imaginar, de autores respeitáveis como Edgar Guimarães, Shimamoto, Luis Saidemberg, Nilson, Cedraz, e muitos outros, além dos estrangeiros Sergio Más (argentino) e Claire Bretécher (francesa). Também investiu em quadrinhos GLS, como as personagens lésbicas Katita (de Anita Costa) e Maria (do próprio Henrique), e em zilhões de obras teóricas e acadêmicas que vieram suprir a carência de títulos do gênero no mercado. São mais de 130 títulos lançados em exata década e meia! No ano em que a editora completa 15 anos de vida, nada mais justo e correto do que dar-lhe um merecido prêmio como presente de debutante. E, claro, desejar-lhe mais 15 anos de vida. E depois mais 15, e mais 15, e mais...
8 - Fanzine/Revista Independente: Maturi
Tem gente que tem preguiça de fazer o dever de casa e finge que é só em São Paulo que tem Quadrinhistas! Um jeito assim meio "tucano" de pensar, sabe? Mas dêem só uma olhada nessa revista sensacional que é a Maturi #2, do ensolarado Rio Grande do Norte!Que belezura esse gibi, desde a capa até o último quadrinho do miolo! A revista traz HQs primorosas de Gilvan Lira, Emanoel Amaral, Marcio Coelho, Luiz Elson, Ivan Cabral, José Veríssimo, Robson Nascimento e Wolclenes, a fina flor do Quadrinho potiguar. Juntos eles formam o Grupehq - Grupo de Pesquisa e Histórias em Quadrinhos, e seu rebento mais precioso é este gibi caprichadíssimo, recheado de HQs com os mais diversos traços e estilos, todos extremamente profissionais e atraentes, proporcionando um resultado final harmonioso. São trabalhos tão legais que você olha e pensa: "Pôxa, esses caras deviam aparecer mais, ser conhecidos no Brasil inteiro!". Mas, se depender do Bigorna, terão todo o reconhecimento do mundo. Este prêmio é uma prova disso! Todo sucesso para o vasto e criativo Quadrinho Nordestino Brasileiro! E xô, Xenofobia!
9 – Editora: Devir
A Devir começou humildemente lá no final dos anos 80, como uma importadora de gibis e de RPGs, sendo, sem dúvida, a grande responsável pela popularização destes jogos no Brasil. Com o sucesso dos RPGs, passou a publicar tais livros no Brasil se tornando também editora. No embalo do crescimento aproveitou pra abrir uma lojona poderosa em São Paulo, que a molecada lota todo dia pra comprar Quadrinhos, jogar RPG e encontrar os amigos. Passou então a investir no Quadrinho Nacional, publicando álbuns e livros caprichados de autores como Lourenço Mutarelli, Shimamoto, Angeli, Sergio Macedo, Marcatti, Laudo, Fernando Gonsales, e muito mais. Além de autores clássicos estrangeiros como Will Eisner, Alan Moore e Frank Miller. Também investiu em autores brasucas jovens como Jozz e José Aguiar. A Devir vem investindo no Quadrinho Brasileiro em ritmo crescente e intenso, lançando vários títulos novos todo ano, e com certeza merece não apenas um Prêmio Bigorna, como muitos outros pelo seu exemplo de empreendedorismo e confiança no Brasil, em sua cultura e em seu Quadrinho. Deus abençoe os sócios Mauro e Douglas e conceda longa vida à Devir!
10 - Publicação de Humor: Gibizon do Radicci - Iotti
O cartunista gaúcho Carlos Iotti está para os quadrinhos como a banda pop Nenhum de Nós ("Camila, Camila","Astronauta de Mármore") está para a música. Ambos podem até não fazer tanto sucesso no resto do Brasil, mas são um verdadeiro fenômeno de popularidade em seu estado natal! Iotti é figura-chave no humor sulista atual, seja através de suas tiras que retratam de forma hilária e fiel a cultura gaúcha, seja em seus shows de comédia stand-up pelos bares e teatros do Rio Grande do Sul. Seu personagem Radicci, um bagual tradicionalíssimo, existe desde 1983 e é tão popular no RS que já é considerado um membro de qualquer família por lá. Seu Gibizon, coletânea anual de suas tiras publicadas em jornais pelo Sul, já está no número 27, é uma publicação independente e divide espaço na loja virtual do cartunista com chaveiros, roupas, bonecos, adesivos, CDs (com as piadas gravadas), e toda sorte de merchandisings que só confirmam como o cartunista é bem-estruturado e bom empreendedor. Por sua importância, Iotti merece bem mais prêmios do que já ganhou, e se não os recebeu até agora, de certo foi por estar "longe demais das capitais". Mas com o Bigorna não tem essa frescura! Tome seu prêmio e parabéns, Iotti! Trilegal, tchê!
11 - Melhor Livro Sobre Quadrinhos: Maria Erótica - Gonçalo Júnior
De uns tempos pra cá, muitos brasileiros começaram a escrever livros sobre Quadrinhos. Isso é ótimo, já devemos ser um dos países com maior produção do gênero! Porém, quem continua na frente dessa maratona é o baiano arretado Gonçalo Júnior! O cara se diferencia da maioria por escrever catataus gigantescos que consomem meses, ou até anos, de árdua pesquisa. Se diferencia por escolher temas até então inéditos! Enfim, como diz aquele velho bordão, por "ir até onde nenhum homem jamais esteve"! E mais uma vez ele repete o feito neste livro "Maria Erótica", em que destrincha toda a trajetória das históricas editoras "EDREL" e "Minami-Cunha", e seus quadrinhos eróticos, durante a ditadura militar. Uma pesquisa minuciosa e exaustiva que culminou nas 500 (!!!) páginas deste livro! "Maria Erótica" é uma espécie de continuação de "A Guerra dos Gibis", outro livro seminal de Gonçalo, e trata-se de mais um capítulo da longa História da HQB, que Gonçalo, passo a passo, ou livro a livro, está escrevendo. Como nenhum outro conseguiria fazer em seu lugar! Que coragem, heim, Gonçalo?!?...Que este prêmio compense, ao menos minimamente, tudo que você tem feito pela memória do Quadrinho Brasileiro!
12 - Publicação de Aventura/outros: ZOO - Nestablo Ramos Neto
Esse carioca, radicado em Brasília, de nome curioso, é simplesmente um dos melhores quadrinhistas que apareceu no Brasil nos últimos anos! Seu estilo macio e harmonioso lembra um amálgama de Russ Manning (e por tabela Steve Rude), Archie Comics e Irmãos Hernandez, resultando num dos traços mais carismáticos do momento. Maleável, ele permite que Nestablo encare qualquer empreitada, desde a Luluzinha Teen, que está ilustrando, até obras autorais ousadas como este ZOO, lançado pela HQM Editora. Em ZOO, Nestablo também assume o roteiro, criando um mix de Planeta dos Macacos com Revolução dos Bichos. Um mundo onde os animais antropomorfizados dominam, explorando os humanos da mesma forma que fazemos hoje com os bichos. Uma aventura inteligente, que além de tudo, ainda traz uma oportuníssima crítica social e ecológica! Traço bonito, texto inteligente, narrativa moderna, edição caprichada: que mais um grande Quadrinho precisa?!? Mais nada! Só faltava vergonha na cara da Dona Crítica para premiar o Nestablo! Toma que o filho é teu, Nestablo! E continue criticando a burrice humana, que pelo jeito, ela ainda está longe de acabar!
13 - Prêmio Contribuição a HQB: Ota
O carioca Otacílio D'Assunção Barros, mais conhecido como OTA, é um dos nomes mais importantes do Quadrinho Brasileiro de todos os tempos! O cara já fez tanta coisa nesse mercado, que dez linhas de texto não dá nem pra saída pra contar tudo que já fez!Começou aborrecente como assistente de redação na gloriosa EBAL, foi pra Vecchi e, com apenas 22 anos, trouxe a MAD pro Brasil, a qual editou por por 30 longos anos. Na MAD deu espaço pra um porrilhão de artistas brasileiros. Paralelo a isso, lançou no fim dos anos 70, a Spektro, que foi um fenômeno editorial e deu espaço pra mais um porrilhão de artistas nacionais. Lançou a Eureka, única revista a reunir toda a série Vizunga, obra-prima de Flavio Colin. Escreveu o primeiro livro analisando a obra do polêmico Carlos Zéfiro, quando sua identidade ainda era um dos mistérios mais bem guardados do Brasil. Escreveu zilhões de artigos sobre HQ brasileira e estrangeira pra incontáveis veículos. Além de tudo isso ainda construiu uma prolífica carreira como cartunista, sendo sem dúvida, um dos mais hilários e escrachados do ramo. Enfim, um gênio que esteve a frente de seu tempo praticamente a vida toda. Premiá-lo com um Bigorna não é apenas um gesto coerente, mas uma OBRIGAÇÃO MORAL! Benção, Ota Xarope!
14 - Premio "Uma vida dedicada aos quadrinhos": Osvaldo Talo, Julio Shimamoto e Getúlio Delphim
Bigorna prossegue sua tradição de premiar três Mestres da HQB, cujas vidas foram integralmente devotadas aos Quadrinhos. Osvaldo Talo, Julio Shimamoto e Getúlio Delphim são artistas que dispensam longas apresentações. Todos pertencem a uma geração que fez o caminho das pedras e construíram carreiras sólidas e prolíficas numa época em que ainda não haviam as facilidades tecnológicas de hoje. Pegaram o "boom" dos gibis de super-heróis e de Terror nacionais dos anos 60 e 70 e ajudaram a produzir o vasto acervo de títulos que o Brasil consagrou naquela época. Títulos como Capitão 7, Fantastik, Vigilante Rodoviário, Aba Larga, O Gaúcho, Targo e muuuuito mais!
Enfim, três Mestres de trajetórias respeitabilíssimas e invejáveis. Conceder um Prêmio Bigorna aos três não é mais do que fazer-lhes justiça por terem pavimentado a estrada do Quadrinho Nacional, por onde todos nós, de gerações posteriores, passamos hoje com muito mais conforto do que estes pioneiros tiveram. Aos Mestres com carinho e todo respeito do mundo!
15 - Homenagem Especial: Joacy Jamys e Glauco
Dois talentosos quadrinhistas que saíram precocemente deste insensato mundo material!
Primeiro, o carioca radicado no Maranhão Joacy Jamys, músico punk, designer, escritor e quadrinhista versátil. Um artista multifacetado, homem de letras, imagens e sons. Extremamente produtivo, era o quadrinhista mais consagrado em seu Estado. Abusou da saúde, judiou da carne, viveu 300 anos em 30 e transbordou pra fora de si em dezembro de 2006. Recebeu as devidas honras aqui no Bigorna e na imprensa alternativa brasileira. E agora recebe este prêmio póstumo para consagrar de vez seu nome na galeria dos quadrinhistas que fazem falta ao Brasil! RIP, broder!
Perda irreparável também a do Glauco Villas Boas, criador do Geraldão e sujeito querido por todos. Outro artista multifacetado que dividia seu talento entre os quadrinhos e a música. Foi tragicamente assassinado junto com o filho Raoni, em março deste ano, por um conhecido da família com transtornos mentais, num crime que virou notícia nacional e chocou o Brasil! Adoraria ter dado um Prêmio Bigorna para o Glauco ainda em vida, porém, nessa vida tudo é tão rápido e imprevisível, que nem sempre dá pra ser tudo como a gente planeja. A gente segue o script, mas Deus é que dirige o filme. E a hora que ele fala "Corta!", não tem jeito. A gente sai de cena, querendo ou não. Restam os aplausos e a certeza que o Show não pode parar! Palmas então para Glauco e Joacy! Que Deus lhes conceda o dobro da alegria que nos proporcionaram aqui.
Para encerrar, estes são os premiados de 2010. Lembrando que este ano, infelizmente, não haverá Festão do Baraldão, nem cerimonia de entrega. Pois foi um ano atípico, de uma eleição extremamente exaustiva, que tomou muito tempo e atenção deste que vós escreve, impedindo-me de correr atrás dos também exaustivos preparativos que uma festa exige. Até mesmo meu novo livro, dos passarinhos Vapt e Vupt, atrasou, saindo da gráfica apenas este mês. Nem lançamento farei. Mandarei-o direto para as livrarias e para a imprensa. Mas não há de ser nada! Os prêmios serão todos enviados para a casa de cada ganhador, sem incômodo algum para estes.
Lembrando também que a comissão que escolhe os ganhadores é formada pela cúpula do Bigorna, a saber: Eloyr Pacheco, Humberto Yashima, Matheus Moura e o gatíssimo Marcio Baraldi.
O Bigorna parabeniza a todos os ganhadores e aproveita para desejar que nestes próximos anos a categoria dos Quadrinhistas, bem como suas entidades representativas AQC e ACB se fortaleçam e se mobilizem, promovendo o debate permanente sobre os problemas e soluções do Quadrinho Nacional, pois entendemos que o cenário político será favorável para possíveis e merecidos avanços.
De sua parte, Bigorna se coloca a disposição para ser um canal fixo para promover tais debates, como aliás, já vem fazendo nesses seis anos, através de suas entrevistas, sempre politizadas e politizadoras, com autores brasileiros. Assim sendo, caros camaradas, a premiação deste ano termina por aqui... mas o debate continua.
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