terça-feira, 6 de abril de 2010

2006 - Tudo de novo?

Reproduzo abaixo um excelente artigo de Luiz Carlos Azenha (o qual copiei de seu site Vi o Mundo), e que, acredito, seja de suma importância para todos nós que (ao que parece, infelizmente) esperamos que a farsa de 2006 se repita nestas eleições.

Há poucos jornalistas de fato hoje no Brasil. Veículos, quase nenhum. Ainda bem pela internet, que possibilitou uma corrente de união entre os raros profissionais comprometidos com o país e o povo brasileiro. Uma ponta de ânimo para quem não está em busca da compra de um discurso, mas da formação do seu próprio.

Acrescento que, independentemente de sua posição ideológica, caro leitor, este artigo venha a confirmar a necessidade do envolvimento de todos nós no campo da produção do conteúdo jornalístico deste país. Decerto não me refiro à nossa intervenção nessa produção, mas nossa atenção para ela, em vista de tudo o que foi feito num passado bastante recente.

Creio que estejamos cansados de ser enganados pelos veículos que se dizem comprometidos com a verdade, quando têm, de fato, o único compromisso com seus próprios interesses ou os interesses daqueles que, velada ou declaradamente, apoiam. De fato, a crítica desta que vos fala seria absolutamente infundada se houvesse a honestidade da tomada de posição por parte de quem veicula notícias. Em outros países é assim. Sabemos que os veículos "x" estão com os candidatos "x" e os veículos "y", com os canditatos "y".  No entanto, no Brasil, grande parte da grande mídia prefere passar com um rolo compressor por cima dos princípios democráticos e éticos e trava uma guerra (anti-democrática!) onde soberbamente impera o vale-tudo (principalmente a mentira e a distorção dos fatos!) para se formar opinião, para se "pescar" eleitores, custe o que custar.

A verdade, caro leitor, é que a democracia permite a adversidade, a disputa entre idéias e ideologias. Isso, aliás, é o princípio democrático essencialmente. O problema está no discurso mentiroso, tendencioso, inventor de fatos, que usa do princípio democrático para disseminar mentiras. Discurso de quem finge "dar a notícia" quando de fato "fabrica a notícia". Por isso os seus olhos críticos devem estar abertos e preparados para discernir entre o que é e o que não é.  Separar as verdades inventadas das mentiras reais e usar o seu discernimento - não o discernimento de quem o impôs a você - para fazer sua escolha nas urnas.

Qualquer que seja sua decisão, tome-a pelos motivos certos.
  • Acompanhe as notícias por diferentes veículos.
  • Busque saber a história dos veículos que você acompanha regularmente: quais sempre foram fiéis à democracia? Quem se vendeu à ditadura para fazer dinheiro e construir impérios?
  • A quem interessa a vitória do candidato "x" ou do candidato "y"?
  • Principalmente: assista aos debates políticos! O debate é a real oportunidade de se conhecer os candidatos! Não seja um "cabeça feita"! 
  • Ouça as propostas dos dois lados e escolha a partir delas.
  • Siga as pesquisas eleitorais de órgãos independentes, não vinculados à mídia.
  • Procure ouvir, de maneira racional, as razões pelas quais outras pessoas defendem posições diferentes das suas. Neste sentido, não se deixe levar pelo caminho das agressões gratuítas, das ofensas... 
  • Discuta política com política. Governo se discute, se critica, com debate entre planos de governo, com debate entre realizações e propostas - não com xingamentos,  baixarias, agressões...
  • Ao invés de mandar aquele "email-corrente" cheio de piadas maldosas sobre políticos - o que causa bastante desconforto quando você não sabe se a pessoa para quem você mandou o email partilha da mesma opinião grosseira que a sua - procure mandar mensagens em que haja uma discussão fundamentada, que permita uma troca de opiniões saudável.
  • Principalmente, desconfie das "descontruções gratuitas" das personagens envolvidas nas disputas políticas. Ouça o que as pessoas tem a dizer - principalmente quando o dizem em sua defesa! Ouça com os ouvidos de quem busca ser justo, correto; não com os ouvidos de quem é surdo para a democracia.
  • E lembre-se: você pode mudar de opinião, sim! Mas faça-o por razões justas, objetivas e concretas. Quer discutir e participar da política? Quer votar com consciência? Seja um cidadão politizado! Vença a preguiça e abra livros para conhecer a história. Dispa-se dos preconceitos e busque conhecimento.
Graças a Deus o Brasil venceu o tempo em que a tortura e o crime ditavam as regras. Historicamente, nem faz tanto tempo assim que a ditadura acabou. Tanto é verdade que as pessoas que praticaram a tortura, que apoiaram os ditadores e torturadores ainda estão aí, vivas e andando em liberdade. Algumas tem a audácia de participar da vida pública como se este passado jamais tivesse acontecido. Outras, empresas, tem o descaramento de fazer jornal! Fabricam notícias mentirosas com a mesma naturalidade com que emprestavam seus veículos aos agentes policiais que torturavam e matavam... E não se deixe enganar: você é o alvo deles. É a sua cabeça e a sua opinião que eles querem para si, para defender o que quer que a eles interesse.  Não se transforme em massa de  manobra!

O Brasil está indo muito bem e vai ficar ainda melhor se conseguirmos vencer a ditadura midiática! Falta pouco para conseguirmos! Falta só você se juntar a nós...

Beijos a todos, fiquem com Deus, e espero que gostem da leitura!
Marcela.


6 de abril de 2010 às 8:05

A reprise de 2006. Agora, como farsa

por Luiz Carlos Azenha
Em 2005 e 2006 eu era repórter especial da TV Globo. Tinha salário de executivo de multinacional. Trabalhei na cobertura da crise política envolvendo o governo Lula.
Fui a Goiânia, onde investiguei com uma equipe da emissora o caixa dois do PT no pleito local. Obtivemos as provas necessárias e as reportagens foram ao ar no Jornal Nacional. O assunto morreu mais tarde, quando atingiu o Congresso e descobriu-se que as mesmas fontes financiadoras do PT goiano também tinham irrigado os cofres de outros partidos. Ou seja, a “crise” tornou-se inconveniente.
Mais tarde, já em 2006, houve um pequena revolta de profissionais da Globo paulista contra a cobertura política que atacava o PT mas poupava o PSDB. Mais tarde, alguns dos colegas sairam da emissora, outros ficaram. Na época, como resultado de um encontro interno ficou decidido que deixaríamos de fazer uma cobertura seletiva das capas das revistas semanais.
Funciona assim: a Globo escolhe algumas capas para repercutir, mas esconde outras. Curiosamente e coincidentemente, as capas repercutidas trazem ataques ao governo e ao PT. As capas “esquecidas” podem causar embaraço ao PSDB ou ao DEM. Aquela capa da Caros Amigos sobre o filho que Fernando Henrique Cardoso exilou na Europa, por exemplo, jamais atenderia aos critérios de Ali Kamel, que exerce sobre os profissionais da emissora a mesma vigilância que o cardeal Ratzinger dedicava aos “insubordinados”.
Aquela capa da Caros Amigos, como vimos estava factualmente correta. O filho de FHC só foi “assumido” quando ele estava longe do poder.  Já a capa da Veja sobre os dólares de Fidel Castro para a campanha de Lula mereceu cobertura no Jornal Nacional de sábado, ainda que a denúncia nunca tenha sido comprovada.
Como eu dizia, aos sábados, o Jornal Nacional repercute acriticamente as capas da Veja que trazem denúncias contra o governo Lula e aliados. É o que se chama no meio de “dar pernas” a um assunto, garantir que ele continue repercutindo nos dias seguintes.
Pois bem, no episódio que já narrei aqui no blog, eu fui encarregado de fazer uma reportagem sobre as ambulâncias superfaturadas compradas pelo governo quando José Serra era ministro da Saúde no governo FHC. Havia, em todo o texto, um número embaraçoso para Serra, que concorria ao governo paulista: a maioria das ambulâncias superfaturadas foi comprada quando ele era ministro.
Ainda assim, os chefes da Globo paulista garantiram que a reportagem iria ao ar. Sábado, nada. Segunda, nada. Aparentemente, alguém no Rio decidiu engavetar o assunto. E é essa a base do que tenho denunciado continuamente neste blog: alguns escândalos valem mais que outros, algumas denúncias valem mais que outras, os recursos humanos e técnicos da emissora — vastos, aliás — acabam mobilizados em defesa de certos interesses e para atacar outros.
Nesta campanha eleitoral já tem sido assim: a seletividade nas capas repercutidas foi retomada recentemente, quando a revista Veja fez denúncias contra o tesoureiro do PT. Um colega, ex-Globo, me encontrou e disse: “A fórmula é a mesma. Parece reprise”.
Ou seja, podemos esperar mais do mesmo:
– Sob o argumento de que a emissora está concedendo “tempo igual aos candidatos”, se esconde uma armadilha, no conteúdo do que é dito ou no assunto que é escolhido. Frequentemente, em 2006, era assim: repercutindo um assunto determinado pela chefia, a Globo ouvia três candidatos atacando o governo (Geraldo Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque) e Lula ou um assessor defendendo. Ou seja, era um minuto e meio de ataques e 50 segundos de contraditório.
– O Bom Dia Brasil é reservado a tentar definir a agenda do dia, com ampla liberdade aos comentaristas para trazer à tona assuntos que em tese favorecem um candidato em detrimento de outro.
– O Jornal da Globo se volta para alimentar a tropa, recorrendo a um grupo de “especialistas” cuja origem torna os comentários previsíveis.
– Mensagens políticas invadem os programas de entretenimento, como quando Alexandre Garcia foi para o sofá de Ana Maria Braga ou convidados aos quais a emissora paga favores acabam “entrevistados” no programa do Jô.
A diferença é que, graças a ex-profissionais da Globo como Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e outros, hoje milhares de telespectadores e internautas se tornaram fiscais dos métodos que Ali Kamel implantou no jornalismo da emissora. Ele acha que consegue enganar alguém ao distorcer, deturpar e omitir.
É mais do mesmo, com um gostinho de repeteco no ar. A história se repete, agora com gostinho de farsa.
Querem tirar a prova? Busquem no site do Jornal Nacional daquele período quantas capas da Veja ou da Época foram repercutidas no sábado. Copiem as capas das revistas que foram repercutidas. Confiram o conteúdo das capas e das denúncias. Depois, me digam o que vocês encontraram.

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