quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
A CASA NO CAMINHO
Ainda em 2010...
A CASA NO CAMINHO
“Ó grandes muros sem eco,
presídios de sal e treva
onde os homens padeceram
sua vasta solidão...
Não choraremos o que houve,
nem os que chorar queremos:
contra rocas de ignorância
rebenta nossa aflição.
Choramos esse mistério,
Esse esquema sobrehumano,
A força, o jogo, o acidente
Da indizível conjunção
Que ordena vidas e mundos
Em pólos inexoráveis
De ruína e exaltação.
Ó silenciosas vertentes
Por onde se precipitam
Inexplicáveis torrentes,
Por eterna escuridão!”
Cecília Meireles (Romanceiro da Inconfidência)
O Projeto
Dois tempos. Duas histórias.
O presente, transcorrido à própria revelia, natural no seu desenvolver desprovido de qualquer lirismo, expõe-se. Mostra-se apenas. Nada mais do que uma linha sucessiva de acontecimentos que se renova dia-após-dia-após-dia-após-dia... O presente conta-se prosaicamente. Um tempo sem tempo para as reflexões. Um tempo que está.
Já o passado, transbordante de percepções, sentimentos e sentidos, constrói-se não à própria revelia, mas ao chamado da memória. Resgata-se, travestido de todos os hojes, onténs e amanhãs presentes no ato da evocação; rico em detalhes imaginados, tangíveis apenas para quem o viveu. O passado canta-se (não conta-se) poeticamente. Um tempo cheio de si, e de reflexões sobre si mesmo. Um tempo que é.
Assim constrói-se a narrativa em A Casa no Caminho: em prosa e verso.
Um romance destinado a todos os públicos que, por meio da prosa para tratar do presente, e da poesia para remeter ao passado, discorre sobre um tema de grande importância na historiografia brasileira: a violência praticada contra os negros durante o período de escravidão no Brasil.
A estória, construída sob influência do atual debate político, cultural e pedagógico acerca da inclusão do ‘negro’ na sociedade brasileira, busca resgatar a história da população de origem africana no Brasil, desde as lutas contra a escravidão – como os movimentos quilombolas – até as lutas mais recentes pela inclusão efetiva na cidadania (como, por exemplo, a adoção do feriado da consciência negra por algumas cidades brasileiras e a obrigatoriedade do ensino de história da África no currículo do ensino médio).
É preciso salientar, contudo, que a intenção do texto não é trazer este debate para dentro da literatura, mas fazer resgatar, por meio da literatura, a memória da escravidão, sem a qual esta discussão ficaria descontextualizada. Esta é a razão do discurso em dois tempos: reproduzir dois momentos históricos diferentes que tratam, cada um à sua maneira, deste controverso, polêmico e imperativo debate.
O livro contará com vinte ilustrações internas de Weberson Santiago, premiado artista, grande amigo, e parceiro da autora no romance Liah e o Relógio (ganhador do PAC 2007/2008 de produção literária). Além das ilustrações, todos os capítulos serão introduzidos por epígrafes de autores ou personalidades que efetivamente viveram, de alguma forma, a experiência da escravidão: alguns mais conhecidos, como Castro Alves e Machado de Assis, outros quase desconhecidos, como Luis Gama, e outros ainda conhecidos apenas por um público muito específico, como Joaquim Nabuco.
Um poeta, um romancista, um advogado abolicionista e um pensador da política: não houve segmento da sociedade brasileira do século XIX que não tenha sido atingido pelo escravismo, ou que não tenha refletido a respeito do tema, e é o resgate desta reflexão que A Casa no Caminho propõe retomar. Ademais, este trabalho é, em grande medida, inspirado na leitura destes autores e pretende, portanto, inspirar seus leitores a buscá-los também.
Espera-se conseguir despertar o interesse, principalmente do jovem, para uma temática na maioria das vezes negligenciada nos manuais escolares, ou mesmo no tratamento “popular” do tema – como a escravidão atenuada da teledramaturgia. Neste sentido, buscamos na pesquisa de historiadores e especialistas no tema, as fontes para a reconstrução do cotidiano do negro escravo. Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Luís da Câmara Cascudo, Kátia de Queirós Mattoso, Clóvis Moura, Luiz Luna e José Alípio Goulart são alguns exemplos de autores pesquisados para a composição do trabalho.
LANÇAMENTO AINDA EM 2010!
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