terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Dia triste

Estou de luto.

Preciso falar sobre um amigo muito querido que se foi hoje e que, não apenas pelo profundo carinho que eu nutria por ele, mas também pela imensa gratidão que devia a ele, penso que não dedicar a ele algumas palavras seria deixar de dividir com todos um pouco da pessoa incrível que ele foi em vida.

Meu querido amigo Mauro dos Prazeres, Sócio-Fundador da Devir Livraria, faleceu hoje.

É muito curioso, porque, apesar de o Mauro ser diretamente responsável por meu ingresso na carreira de escritora (junto com outros grandes amigos), não foi por causa da literatura ou dos quadrinhos que ele entrou em minha vida, foi por causa da música!

Pra quem não sabe, venho de uma família de músicos, meus pais, meus tios... Meus avós! E, para alegria do meu pai, já que, eu mesma, não me interessei pela carreira musical, minha irmã, Adriana Godoy, foi quem seguiu estes passos.

Antes de eu imaginar que um dia pudesse vir a realizar o sonho de publicar um livro, nosso já saudoso Mauro acompanhava estreitamente a carreira da minha irmã.

À época, por volta de 2002, minha irmã e meu pai se apresentavam diariamente numa casa de música ao vivo conhecida dos amantes da MPB, o Bar Confraria. Mauro, como amante de MPB e conhecedor do assunto, veio a conhecer o trabalho de minha irmã nessa casa e posso afirmar, sem nenhum exagero, que ele foi, de fato, o primeiro fã de verdade que minha irmã teve!

Sua presença na platéia era certa.

E não só na plateia do Confraria, mas nos teatros (muitas vezes vazios, porque vida de artista em começo de carreira não é mole), nas casas de show... Até quando ela cantava em parque ele estava lá!
A última vez que o vi, numa situação fora de nossa relação profissional, foi no show de comemoração de 15 anos de carreira da Adri, ano passado. Ele estava muito feliz e também muito cansado, pois havia, naquela tarde, chegado de uma viagem que durara cerca de 9 horas de avião, e, mesmo assim, lá estava ele a prestigiar a baixinha!

Quando nos conhecemos foi uma situação muito engraçada...

Porque, então, eu havia acabado de escrever meu primeiro livro e estava negociando a publicação com a Devir. Numa conversa "de cozinha" sobre o assunto com minha irmã, comentei que uma editora (sem mencionar o nome) havia se interessado pelo trabalho e que eu estava empolgada com a possibilidade de publicar. Ela disse-me, então, "Tomara que dê certo! Mas se não der, tenho um amigo muito querido que trabalha no mercado de livros e, de repente, você mostra seu trabalho pra ele."
Ela não sabia, então, com qual editora o Mauro trabalhava. Eu não sabia que o amigo-editor dela era o Mauro e o Mauro nem imaginava que o Godoy do meu nome era, literalmente, o mesmo Godoy do nome da artista de quem ele era tão fã... E viemos a descobrir que "não éramos estranhos" numa deliciosa situação,à la "Seinfeld": Teatro cheio, show acabando, de repente, eu vejo o Mauro na plateia do teatro - e outros amigos da Devir - e penso comigo "nossa... que coincidência!"... E, ao final do show, naquela correria dos cumprimentos e tal, eis que vem o Mauro como CD para a Adri assinar e ela me diz... "Lembra aquele amigo da editora que te falei? É ele!"... E nós nos olhamos e começamos a rir! E ela, sem preceber, continuou, "Lembra da minha irmã que escreve e que eu queria que você conhecesse? É ela! Ela vai publicar um livro, sabia??" E ele, como aquele sorriso largo e delicioso, disse todo cheio de satisfação: "Claro que eu sei! O editor sou eu!"

E essa é só uma das ótimas lembranças que tenho dele... As longas conversas sobre metafísica e música... As aulas sobre quadrinho! Ele sempre tão delicado, cordial... Atencioso, tão atencioso! Sempre me incentivou, sempre me animou! Discutia meu trabalho nos detalhes, via tudo o que eu queria que fosse visto e que escapava à maioria! Lia as entrelinhas como as entrelinhas deviam ser lidas... Questionava-me! Sempre! Convidava-me aos exercícios mais saudáveis de reflexão!...

Poxa, que pena! Que pena...

Eu não poderia não falar do Mauro porque seria deixar de celebrar a pessoa maravilhosa que ele foi.
E quero falar dele porque quero me lembrar dele.
Neste espaço aqui, o Mauro vai ser lembrado!
Sempre será lembrado.

Vou sentir muito a falta dele.
Hoje é um dia muito triste.

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